Durante cinco dias, do final de fevereiro e início deste mês de março, tive o desprazer de testemunhar uma angustiante espera daqueles que se utilizam dos serviços do Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, Paraná.

Mas, não estou falando da espera de uma consulta ou de algum exame ou cirurgia, e sim da espera daqueles que já estão do lado de fora, nos pontos de ônibus aguardando transporte na Rodovia do Caqui.
De segunda a sexta-feira vi várias cenas lamentáveis se repetirem, muitas delas não tive a coragem de fotografar.
“Idosos enfermos aguardando em pé; mãe com filho de colo sentada no chão; idosa de cócoras, encostada no muro ao lado do ponto; pessoas que buscavam um fiapo de sombra para se proteger do sol ou um pedaço de cobertura para se proteger da chuva”, é rotina no entorno do hospital.
Percebi no rosto dessas pessoas não a alegria, mas o sofrimento de estarem naquele situação, após terem saído de um local em que se vai não por prazer, mas sim quando se está doente, e muitas vezes muito doente, como alguns que vi.
O incrédulo dirá que estou mentindo, mas, felizmente, no último dia em que lá estive, forcei o meu indicador a apertar o botão vermelho do celular e registrar algumas imagens, mesmo a do ponto vazio, para ao menos ilustrar essas frases de angústia e desabafo.

O Hospital é referência, mas o entorno…
Ao conversar com algumas pessoas, ouvi que o descaso já é de longa data.
“Mas como?”, eu perguntava abismado, pois o Hospital Angelina Caron é uma referência não apenas para o Estado do Paraná, mas para o Brasil! “O esforço público deve ser acentuado para deixar o entorno impecável”, pensava eu, ao não acreditar que algo tão simples pudesse ser deixado de lado, sendo testemunhado por centenas de pessoas, todas as semanas.
Ora, segundo dados do próprio Hospital Angelina Caron, são mais de 25.500 cirurgias por ano, 914.000 procedimentos; 366 transplantes, local onde trabalham mais de duas mil pessoas!
Esses dados hercúleos pude confirmar em pequenas doses pelas salas de recepção, enfermarias, UTI, onde conversei ou ouvi conversas de pacientes e/ou acompanhantes de São Paulo, Rio Grande do Sul e vários de Santa Catarina, sem falar daqueles que moram no próprio estado paranaense.


A espera para ir para casa
Para quem não sabe, o Hospital Angelina Caron recebe vários pacientes de diversos municípios, cujo deslocamento se dá por transporte cedido pela prefeitura de origem, alguns vão de carro, vans ou ônibus.
Essas pessoas descem, algumas realizam simples consultas, outras exames ou quimioterapias ou, ainda, os mais diversos procedimentos e depois aguardam o transporte de retorno nesses pontos, cujo espera pode durar horas, pois o transporte cedido faz uma rota pelos diversos hospitais, deixando os pacientes e recolhendo ao final. Há casos em que as pessoas saem duas horas da manhã de suas cidades, chegam ao hospital próximo das sete horas, fazendo o caminho de retorno somente no final da tarde, chegando em suas casas já próximo da meia-noite. – Uma jornada, no mínimo, cansativa.
“Imaginem uma pessoa idosa, após fazer quimioterapia, ter de esperar em um desses locais, sem um banco para sentar, no calor do sol, ou sob a chuva!”, difícil de aceitar, não é mesmo.
Enfatize-se que, ainda, se os pacientes não esperam no local especificado, correm o risco de serem esquecidos pelo transporte, como ouvi relatos por lá. E olha que não foi apenas uma história!
Falta pouco…
Proporcionar uma melhor “estrutura de espera” na Rodovia do Caqui para dar um conforto e dignidade às pessoas que buscam tratamento médico no Hospital Angelina Caron deve ser uma prioridade! E, para ser sincero, ao meu ver, deve ser um investimento público tão baixo perto dos benefícios para as milhares de pessoas que por ali passam, que parece ser uma piada que ainda não tenha sido realizado. – Falta pouco, meus caros governantes, falta pouco…
Aliás, todos os hospitais que sejam referência deveriam ter o seu entorno analisados e melhorados para acolher a demanda que recebem. O caso do entorno do Hospital Angelina Caron não deve ser o único, certamente.
Ainda, sem me prolongar:
Embora o objetivo do texto esteja claro, aproveito também para tecer algumas observações gerais para ilustrar minha experiência nesse Hospital e seus arredores:
1 Do atendimento:
Como em qualquer lugar, pessoas excepcionais trabalham, prontas para responder a mesma pergunta mais de uma vez, com seriedade e sorriso no rosto, que buscam ajudar sempre; mas também outras que deveriam procurar outra profissão ou tirar boas férias para buscar a sensibilidade perdida. – Gratidão àqueles que fizeram a diferença!;
2 Do pátio interno:
Acolhedor. Se não tiver muito sol, nem chuva, um belo lugar para olhar o farfalhar das folhas, mas com olho no relógio, sempre.

3 Estacionamento em via pública:
Sobram locais pagos, mas o acostamento na via principal (Rodovia do Caqui) é ruim, sendo um risco à segurança coletiva colocar ou tirar o veículo em alguns locais. – Infelizmente não efetuei nenhum registro fotográfico.
4 Hospital referência?:
Certamente sim em muitos aspectos, mas em outros tem de melhorar. Por exemplo, falta um simples banheiro com acessibilidade na recepção ao lado do Pronto-Socorro.
5 Dos “nossos” políticos:
Legislativo? Executivo? Certamente não passaram por lá. Não os vi. Nenhum pedindo voto, tirando foto, conversando com os usuários, tentando estacionar na via pública ou, simplesmente, sentado na barra de ferro enquanto aguardava o transporte público.