Olhar cabisbaixo,
entra a menina loira de olhos azulados
naquele ambiente tomado pela penumbra.
Assustada por ser conduzida a um quarto desconhecido,
assustada por estar sozinha com aquele homem.
Com voz grave e suave,
pede para que a pequena fique em silêncio
enquanto lentamente fecha a porta.
Pede para que ela feche os olhinhos
enquanto ele caminha até a janela.
A menina faz exatamente o que ele ordena.
Seu coração bate forte,
sua respiração galopa
enquanto suas mãozinhas se apertam
nos bolsos de sua blusa verde musgo.
Ele lentamente caminha até a janela,
onde para e sorri.
Com suas mãos enrugadas pelo tempo,
segura as cortinas densas,
e num solavanco as joga para o lado,
deixando a claridade invadir o ambiente.
Volta-se para ela,
que já está de olhos arregalados
e largo sorriso em seu rosto corado.
Prateleiras repletas de livros,
nunca vira tantos,
e o olhar de medo,
tornou-se de admiração!
Livros de todas as cores,
tamanhos, espessuras,
enfileiravam-se tomando
cada canto daquele cômodo.
O homem faz um gesto com a mão,
ela corre para a prateleira mais próxima,
tateia várias capas,
e repousa em um em especial:
“Os mais belos contos de fadas”
Senta-se em uma poltrona larga,
aveludada, vermelha, descorada,
com cheiro de sol,
abre o pesado livro
e decifra cada palavra escrita
naquelas páginas amareladas.
O homem, mestre das Letras,
o novo professor daquela inocente menina,
que ansiava por novos mundos,
de fantasias, alegrias e sonhos!
A menina, pueril e sorridente,
a neta que ele nunca teve,
a motivação para aquele velho homem
que já havia cansado da vida,
e que agora encontrou um motivo para viver.
Redação Brasil 