Rapidamente entra no banheiro,
Abre o registro para encher a banheira,
Encosta-se na parede fria,
Cantos dos lábios para baixo,
Braços cruzados,
Olhos fechados,
E fica em silêncio.
Seu coração pulsa
Em ritmo frenético,
Falta ar para sua respiração,
Profunda e sentida.
Mesmo sem querer,
Começam a escorrer lágrimas,
Que Carolina tenta conter,
Mas em vão,
Pois elas se avolumam.
Ela abre os olhos,
Mas não tem coragem
De encarar o espelho
Que está em sua frente.
Segura a respiração,
Contém a raiva que emerge
Do seu frágil coração,
Levanta a cabeça,
E aos poucos,
Busca-se,
E no reflexo visualiza
Seus olhos azulados torneados
Pela vermelhidão do sofrimento,
E do sentimento de ser
Enganada.
A raiva vem como a lava,
Fervescente e destruidora,
Então agarra o ornado frasco de perfume
E o arremessa contra o espelho,
Jurando para si mesma
Que era a primeira e última vez!
Com suas mãos trêmulas
Arranca as roupas do seu corpo
E as joga no lixo.
Agora nua,
Olha seu reflexo estilhaçado dos pés à cabeça,
E fixa seu olhar
No oceano dos seus olhos.
“Você merece alguém melhor”
Pensa,
“Você merece alguém melhor”
Balbucia,
“Você merece alguém melhor, Carolina!”
Grita.
Carolina,
Lentamente,
Tira o anel dourado de sua mão direita
Dado a ela como pedido de perdão,
Caminha até a sacada do apartamento,
Segura-se no parapeito,
E já sob a luz do luar,
Joga-o do décimo quinto andar.
Olhos para o infinito por alguns instantes,
E regressa para o seu jazigo.
Carolina acende as velas dos castiçais,
Coloca uma música instrumental e melancólica,
Abre uma garrafa de vinho tinto,
Delicadamente segura a taça…
“Brindemos o amor próprio!”
Caminha novamente até o banheiro,
Entra na banheira que já transbordava,
Deita e relaxa n’água quente
Jurando para si mesma,
Que nunca mais daria
O perdão pela traição.