Quem és tu?
Pergunto ao homem que me olha.
Seu filho!
Responde ele sem pestanejar.
Então sorrio…
Cada filho é uma chama de luz
Dada pelo criador!
Embale no colo enquanto pode,
Brinque de carrinho, jogue bola,
Esconde-esconde,
Conte histórias,
Deite ao seu lado
Até ele fechar os olhinhos
E adormecer.
Mas quando ele acordar,
O tempo terá passado
E a inocente magia
Terá acabado.
Ele será um homem,
E, muitas vezes,
Te olhará com raiva, e
Em amargo silêncio,
Falará que te odeia
Os sorrisos de ontem,
As brincadeiras que juntos fizemos,
Parece que para ele nunca existiram.
Como pode se esquecer de tudo?
Das brincadeiras,
Do carinho,
Do amor…
Lembra-se apenas das broncas,
Das vezes que seu velho pai pediu
Para ele dar um pouco mais
De si mesmo,
Das vezes que o deixou sem celular,
Videogame e o fez limpar o quarto.
Filho amado,
Como és um tolo!
Você cresceu,
Agora és um homem,
E assim,
Agora,
Irei tratá-lo.
A criança ficou no passado,
E lá, também,
A mamadeira e as fraldas.
Olhe-se no espelho,
Veja a barba que agora cresce,
Admire a sua altura,
Veja-se como o homem
Que agora tu és!
E não como uma criança,
Manhosa e birrenta,
Que, aliás,
Você nunca foi!
Mas,
Se for para se olhar no espelho
E ver aquela criança,
Então que seja para admirar
E se inspirar com aquele pequeno,
Que tudo queria fazer,
Que brincava, estudava e nunca,
Nunca se cansava,
Aquele menino alegre,
Que ajudava sem ninguém mandar,
Que se oferecia para tudo,
E adorava enfrentar desafios.
Filho,
Inspire-se naquele menino
Que tanto queria ser um homem.
Filho,
Agora que és um homem,
Não queira ser o menino perdido
Que você nunca foi.
Ah, filhos…
Embale-os enquanto seus braços aguentarem,
Abrace-os enquanto eles não fogem,
Beije-os enquanto suas bochechas estão por perto…
Pois quando eles acordarem depois de uma noite de sono,
Por um longo tempo,
Você será um estranho.
Até, quem sabe,
Após outra longínqua noite,
Talvez já perto do fim,
Eles olhem novamente para aquele homem,
Com pele velha e ressecada,
E talvez se lembrem,
E percebam,
Todo o amor
Desde cedo recebido.
Enquanto sorrio e toco em seu rosto,
Sinto a barba que cresceu,
Quando olho para os seus olhos,
Sinto que te conheço,
Embora não me lembre do seu nome,
E quando pergunto quem és,
Uma lágrima aparece quando sua voz
Sussurra em minha direção e ouço
“Seu filho…”
Lampejos vem e vão:
Você criança,
Você tornando-se um homem,
Você tornando-se pai,
Sim, você é pai e eu já sou avó,
Que vida linda,
Meu filho lindo,
Minha voz rouca balbucia que te ama,
Meus movimentos lentos,
Fracamente se envolvem em seu abraço,
Como a primeira vez que te segurei
Em meus braços fortes,
Um passado que me esforço,
A cada dia,
Em guardar nas memórias
E revivê-las mais uma vez,
Como um sonho
Intenso e maravilhoso,
Que acaba
em um simples piscar de olhos!
Meu amado filho,
Meu amado filho!
imagem: http://josepaulomouraohotmailcom.centerblog.net/858-carta-de-um-velho-pai-a-seu-filho