Não há palavra que conforte
o coração de uma mãe
que diz adeus para o seu filho
num triste funeral.
Não há abraço de consolo
nem olhar de plena mansidão
que faça acalmar a alma
de tão profundo sofrimento.
Em pé,
ao lado do corpo ladeado de flores,
a última vez em que ela toca em suas mãos
– agora frias,
que acaricia os seus cabelos
– agora secos,
que vislumbra os seus lábios
– agora azulados,
que encosta em seu peito
– agora rígido.
Quanto sofrimento,
quantas lágrimas para fazê-lo vir ao mundo,
mas nada comparados ao de vê-lo partir.
Aquela dor, logo esquecida
ao ouvir o seu primeiro choro,
ao segurá-lo em seus braços e amamentá-lo.
Mas esta dor,
intransponível,
avassaladora,
profunda.
O que restou agora para essa mãe
que chora à beira do abismo
rogando a Deus para trocar de lugar
com aquele que ela tanto ama?
Dor, incompreensão, egoísmo… lembranças:
os sorrisos daquele banguela bobinho,
dos primeiros passos desajeitados,
das primeiras palavras arrastadas,
dos abraços apertados,
beijos,
meiguices,
carinho…
um retrato na parede,
e naquela velha caixa de recordações,
há tempos esquecida no armário,
um coração vermelho pintado no papel
escrito em letras tortas